O ano de 2020 deixou marcas profundas, especialmente entre nós, profissionais 50+. Muitos de nós, considerados “grupo de risco”, fomos praticamente expulsos das organizações. Sem alternativas, viramos refugiados em nosso próprio país. Algumas empresas, ao optarem pelo caminho mais fácil, julgaram mais prudente não nos manter em seus quadros.
Assim, parte de nós foi empurrada para o home office, sem qualquer orientação, treinamento ou estrutura. Outros foram simplesmente desligados, sem aviso ou acolhimento.
Já usávamos o WhatsApp — muitos de nós já tinham o famoso “grupo da família” ou grupos de amigos. Também conhecíamos o Skype de antigamente, que permitia ligações gratuitas para o exterior. Dominávamos o Facebook e, aos poucos, tentávamos entender o Instagram.
No entanto, começamos a perceber que precisávamos agilizar e aprofundar nossos conhecimentos tecnológicos. Afinal, os cursos, entrevistas e reuniões no Zoom pipocavam. Além disso, começamos a receber convites para entrar em grupos no Telegram — uma plataforma que, até então, nem sabíamos exatamente o que era. E, como se não bastasse, também éramos convidados a participar de lives no Instagram.
Nomes estranhos como Teams, Meets e WebEx passaram a fazer parte do nosso vocabulário e nossas pobres conexões discadas passaram a não dar conta de tamanho tráfego virtual.
A Era Digital: Progresso Tecnológico, Desafios Humanos
Tivemos que trocar, turbinar ou atualizar nossos equipamentos. Junto com eles, adaptamos nosso entorno. A ergonomia ganhou importância, afinal, era preciso cuidar da saúde física para acompanhar a evolução mental.
No entanto, a saúde mental ficou de lado. Foi esquecida, quase desprezada — assim como nós.
Assim, nossa busca de integração profissional, antes moldada pela transição do analógico para o digital, tornou-se mais complexa e assustadora frente aos contornos exigentes e preconceituosos do novo cenário: ” decifra-me ou te devoro”.
De imigrantes a refugiados: transição forçada
Passamos de imigrantes digitais para refugiados digitais. Não tivemos escolha. Fomos sistematicamente ignorados nas estratégias anteriores de transformação digital.
De forma repentina, tivemos que migrar para um território estranho. As fronteiras eram pouco claras, e o idioma, repleto de palavras desconhecidas. Ainda assim, seguimos em frente — mesmo sem mapa, guia ou tradução.
Professores passaram a ministrar seus conteúdos on line à toque de caixa, candidatos aprenderam a gravar vídeos de apresentação no celular e participar de dinâmicas de grupo virtuais. Fomos convidados a fazer lives no Instagram e participar de festas de aniversário através de plataformas diversas. E aprendemos. Aliás, aprendemos e nos adaptamos muito bem, a despeito de todos os prognósticos contrários! Alguns de nós se tornaram inclusive influenciadores digitais, vejam só!
Resistência de quem não desiste
Como a maior parte dos refugiados, somos resilientes. Estamos acostumados a lidar com o etarismo e, como sempre, tiramos de letra! Sabemos que em breve seremos maioria, o que nos traz uma pitada de otimismo nessa equação. Além disso os estudos comprovam: times multigeracionais produzem mais e melhor! A diversidade etária traz engajamento, inovação e resultados financeiros.
Economia Prateada: a 3a maior do mundo
Para reforçar ainda mais a confiança nesse cenário, vale lembrar um dado impressionante: se fôssemos um país, ocuparíamos o posto de terceira maior economia do mundo. Além disso, a economia prateada movimenta cerca de 15 trilhões de dólares no exterior e quase 2 trilhões de reais no Brasil. Ou seja, não estamos falando de valores irrelevantes — parte de nós tem dinheiro e quer gastar!
Território vago para o Consumo
Pesquisas mostram que influenciadores digitais maduros estimulam o público 50+ a consumir. Ao mesmo tempo, outras apontam a insatisfação com os produtos e serviços oferecidos a esse grupo.
Diante disso, há um espaço claro a ser ocupado. As empresas que enxergarem essa oportunidade podem conquistar um público fiel, exigente e com alto potencial de consumo.
A primeira dedução que podemos fazer é que as empresas precisam de nós, para produzir, inovar, comprar e vender! Algumas já estão se movimentando. Aquelas que ainda não compreenderam isso, estão perdendo dinheiro. Mas, para virar esse jogo, precisamos mais do que isso. Precisamos do engajamento dos envolvidos. E, mais do que isso, precisamos deixar nossa vaidade e individualismo de lado: a batalha contra o etarismo demanda união! #juntospodemosmais!
Fran Winandy para o Blog da Maturi