Etarismo, você sabe o que é?

Se você ainda não sabe, o etarismo é o preconceito de idade. Falando assim, parece estranho, afinal, preconceito contra o quê, já que alguma idade todos nós temos a partir do momento em que nascemos? Então, como é possível que tenhamos algum preconceito relacionado à idade?

O etarismo é mesmo um preconceito esquisito. Aliás, se pensarmos direito, qual preconceito não é bizarro?

Voltemos ao etarismo.

Este preconceito pode recair sobre pessoas jovens demais, pelo simples fato de serem jovens demais para alguma coisa na qual se julgue que a idade traga experiência ou credibilidade. Um jovem cirurgião pode gerar dúvidas sobre sua capacidade técnica devido à falta de experiência. Isso causa insegurança, apesar de sua formação excelente e estágios com especialistas.

Na outra ponta, em uma consulta com um cirurgião idoso podemos achar que ele, ou ela, já não tem mais condições para realizar uma cirurgia. Procuramos sinais e terminamos percebendo alguma senilidade, mãos tremulas, dificuldades de memória ou outras manifestações relacionadas à estereótipos negativos que tenhamos relacionados ao envelhecimento, o que nos traz insegurança. O nosso julgamento pode ou não estar correto em ambos os casos: afinal, quando é a hora certa de começar e de parar, se é que ela existe?

A ponta do iceberg na busca de soluções para erradicar o etarismo nas organizações

A área de Seleção de Pessoal aplica filtros iniciais que podem incluir critérios etários aleatórios, mas é o gestor quem geralmente toma a decisão final. Além disso, algoritmos podem realizar esses filtros de forma mais sutilxemplo disso é uma empresa de tecnologia que não permite cadastro de pessoas acima de 70 anos, limitando o ano de nascimento a 1960.

Etarismo explícito? Suspeito que na maioria delas, mesmo das que se dizem inclusivas com respeito à Diversidade Etária.

Voltando ao RH, a ampliação dos debates sobre Diversidade trouxe a seleção às cegas como a “bola da vez” nas organizações que procuram ser up to date no combate aos preconceitos, dentre os quais o etarismo. Isso porque o processo busca eliminar qualquer traço de identificação pessoal do candidato: gênero, orientação sexual, idade, filhos, local onde mora, instituição onde realizou seus estudos e assim por diante. A entrevista pode ser feita de várias formas: com software que distorce imagem e voz, consultoria terceirizada ou pessoas de outras áreas. Cada empresa adapta o processo à sua cultura.

A questão que se coloca é se os resultados deste processo são realmente eficazes no combate ao etarismo nas organizações: será que a seleção às cegas consegue romper padrões e preconceitos ampliando efetivamente as oportunidades de forma sustentável? O fato de tornar o processo seletivo mais justo e diverso garante que os resultados se mantenham no médio-longo prazo?

A oportunidade de entrar em uma empresa é certamente um passo importante. Mas será que ela basta? Quantas pessoas “diferentes” conseguem se manter na organização sem que haja um trabalho de base? Como fazer para que o processo de inclusão ocorra de fato?

O que é inclusão?

Inclusão significa pertencer e ser único: fazer parte do grupo e ter minha individualidade reconhecida. Preciso me sentir seguro para ser eu mesmo, sem medo de ser isolado ou invisível por ser diferente.

Criar um ambiente de segurança psicológica exige ações deliberadas, pois os preconceitos estão enraizados em nossa cultura e nas organizações. Para superar isso, é preciso ajuda especializada!

E a seleção às cegas? Funciona mesmo?

Sim e não. Depende do todo. No combate ao etarismo ajuda.Porém, o uso dela não descarta a necessidade de trabalhos mais profundos para conscientização de todos.

Fran Winandy, 08/22