A cerimônia do Oscar reacendeu debates importantes ao expor a invisibilidade que o envelhecimento impõe às mulheres e, ao mesmo tempo, reforçar a valorização excessiva da juventude. Além disso, vários filmes trouxeram temáticas envolvendo o etarismo frente às mulheres.

É fato que o  etarismo se manifesta de forma severa para as mulheres no ambiente de trabalho, especialmente para aquelas que ultrapassam os 50 anos. Além disso, esse preconceito raramente age sozinho — ele se cruza com o machismo, criando barreiras ainda mais difíceis de superar. Na prática, idade e gênero se combinam para limitar oportunidades, silenciar trajetórias e apagar contribuições valiosas.

Ditadura da Beleza

O cinema valoriza a juventude feminina como sinônimo de relevância, enquanto marginaliza atrizes maduras. Essas mulheres enfrentam não só a escassez de papéis, mas também a pressão constante para manter uma aparência que desafia o curso natural do envelhecimento.

A indústria impõe a crença de que envelhecer representa uma falha a ser corrigida, e não uma fase legítima da existência. Com isso, ela sustenta uma lógica cruel que alimenta a ditadura da beleza, apagando talentos diante de padrões estéticos inalcançáveis.

O filme A Substância‘ ilustra de maneira impactante a ditadura da beleza e juventude enfrentada pelas mulheres acima dos 50 anos e amplifica os exageros aos quais muitas se submetem para permanecer nos padrões “aceitáveis”.

Muitas mulheres recorrem constantemente a procedimentos estéticos e cirurgias plásticas, travando, assim, uma batalha contra o tempo que, desde o início, está fadada ao fracasso.

Principe encantado?

A indústria cultural perpetua a ideia de que a mulher só encontra redenção ao ser resgatada por um príncipe encantado — uma lógica que ignora sua autonomia e reforça estereótipos ultrapassados. Esse estereótipo aparece com força no filme Anora, vencedor do Oscar. A protagonista, interpretada por Mikey Madison — premiada como melhor atriz — é uma mulher jovem que se encaixa perfeitamente nesse modelo idealizado. Essa representação reforça padrões antiquados, que ainda moldam a forma como a sociedade enxerga o papel feminino, especialmente quando se trata de juventude e aparência.

O etarismo não afeta apenas mulheres acima dos 50 anos — ele também impacta mulheres jovens, especialmente no ambiente profissional. Desde o início da carreira, muitas enfrentam a desconfiança em relação às suas competências e sentem a constante pressão de provar que são capazes. Além disso, algumas relatam que precisam adotar uma aparência mais madura para conquistar credibilidade diante de líderes, colegas e clientes. Elas fazem isso adotando roupas mais sóbrias e menos joviais. Essa estratégia revela um paradoxo cruel: mesmo na juventude, mulheres precisam negociar sua imagem para serem levadas a sério.

O etarismo, portanto, atravessa gerações e reforça estereótipos que limitam o potencial feminino.

Nosso objetivo aqui não é julgar a performance nem questionar a assertividade da escolha — mas sim provocar uma reflexão sobre o processo. Mikey Madison, aos 25 anos, venceu atrizes consagradas e, inevitavelmente, enfrentará a pressão que acompanha esse tipo de reconhecimento.
Essa vitória escancara um dilema recorrente: mulheres jovens são celebradas, mas também cobradas por corresponder a expectativas que muitas vezes ignoram sua trajetória e profundidade.
Para concluir, deixo uma pergunta que atravessa o debate sobre mulheres e etarismo:
O conceito de experiência está mais ligado ao tempo vivido ou à intensidade das vivências?

Fran Winandy