Minhas redes foram bloqueadas

Fui cancelada. Instagram e Facebook derrubaram minhas contas alegando que sou menor de 13 anos, com base em informações que, sinceramente, não forneci. Tentei argumentar, enviei provas contrárias, mas não recebi retorno. Se alguém leu, não tenho como saber: fui mais uma vítima da exclusão digital.

Essa experiência escancara a exclusão digital vivida pelos idosos. Será etarismo digital? Por que a tecnologia, que deveria facilitar, acaba criando barreiras?

A indústria culpa o usuário por não saber usar seus produtos,

como bem apontou Joseph F. Coughlin, do MIT AgeLab. E quando o usuário é um idoso, a culpa vira invisibilidade.

Afinal, a exclusão digital do idoso é responsabilidade de quem? Das plataformas, dos algoritmos, da falta de suporte humano? Precisamos debater isso com urgência — porque o acesso à tecnologia não pode ser privilégio de quem nasceu com ela.

Contatos impossíveis

Por vezes, alguém pode argumentar que o pessoal da geração prateada é lento com tecnologia e vive se queixando da necessidade de ter alguém — um humano — do outro lado da linha, isso se alguma linha ainda existisse. Seja do cabo, da rede ou de qualquer conexão, não importa.

Na prática, a única forma de contato é preencher duas linhas no próprio aplicativo. Em seguida, a resposta “Please Visit the Help Center” retorna como um mantra a cada tentativa, sem oferecer qualquer possibilidade de contato direto, argumentação ou correção.

Diante disso, o etarismo volta à cena. Talvez sejamos mesmo resistentes — ou talvez estejamos apenas exigindo respeito e acessibilidade em um sistema que insiste em nos excluir.

Sensação de injustiça

” Abra outra conta”, me disseram. Sim, mas e minhas fotos, filmes e contatos que estão lá? E tudo o que eu deixei de postar na última semana, meus trabalhos e novos seguidores que poderiam vir à partir deles? Não é justo. Não acho normal sermos tratados dessa maneira e isso é só um exemplo que vem acontecendo por parte das empresas frente ao seu cliente e consumidor. 

Backup? Não tenho. Como assim? E dá-lhe etarismo!

A tecnologia não deveria facilitar as coisas?

Recentemente, li uma frase de Joseph F. Coughlin, do MIT AgeLab, que resume com precisão o paradoxo que vivemos:

“A indústria da tecnologia é a única indústria na história do mundo que tem a coragem de culpar o cliente por não saber como usar o seu produto.”

Não poderia concordar mais! De fato, essa afirmação escancara uma realidade cruel. Em vez de assumir a responsabilidade por criar soluções acessíveis e intuitivas, muitas empresas preferem transferir a culpa para o usuário — especialmente quando esse usuário é um idoso. Como consequência, a exclusão digital se intensifica, alimentada por interfaces pouco amigáveis, ausência de suporte humano e uma cultura que normaliza o etarismo tecnológico.

Diante desse cenário, valorizar a experiência do usuário maduro não é apenas uma questão de inclusão — é uma urgência ética e estratégica. Para mudar esse panorama, a tecnologia precisa deixar de ser um território hostil para quem envelhece. E essa transformação começa com escuta, empatia e compromisso real com a diversidade geracional.

Fran Winandy