“Etarismo pelo mundo” é uma série que explora como o preconceito etário se manifesta em diferentes culturas. A Indonésia e o Brasil compartilham características notáveis como grandes economias emergentes, democracias consolidadas e sociedades diversas. Além da produção de commodities agrícolas, ambos enfrentam desafios semelhantes relacionados ao etarismo e à longevidade.
Com uma população de mais de 280 milhões de pessoas, a Indonésia é o quarto país mais populoso do mundo, mas sofre com o etarismo nas duas pontas: jovens e velhos passam por isso.
Neste artigo, início uma nova série sobre o etarismo global, explorando como o preconceito etário se manifesta em diferentes contextos. Ao comparar experiências, podemos avaliar nosso próprio progresso e identificar oportunidades para mudança.
Se tiver curiosidade sobre o etarismo no Japão, consulte este artigo: https://etarismo.com.br/reflexoes-sobre-o-envelhecimento-licoes-do-japao/
É realmente possível ser considerado “velho demais” aos 30 anos?
Sim, essa é a dura realidade enfrentada por muitos candidatos a emprego na Indonésia. Além disso, o país convive com ofertas de emprego que estabelecem limites máximos de idade, frequentemente até 25 anos, uma prática comum tanto no setor privado quanto no público.
Nesse contexto, esse cenário acirra um debate cada vez mais intenso sobre o etarismo, uma forma de discriminação baseada na idade que afeta significativamente jovens trabalhadores em um momento crucial de suas carreiras. Para saber mais sobre etarismo, consulte este artigo: https://etarismo.com.br/combate-ao-etarismo/
Bônus Demográfico mal aproveitado
Essa exclusão precoce é particularmente paradoxal quando consideramos que a Indonésia possui uma grande quantidade de trabalhadores qualificados. Além disso, com aproximadamente 70% da população em idade ativa, o país desfruta de um “bônus demográfico” que potencialmente impulsionará seu crescimento como nação emergente. Nesse contexto, a Indonésia tem a meta ambiciosa de se tornar uma das dez maiores potências globais até 2030.
Entenda o que é Bônus Demográfico neste artigo: https://etarismo.com.br/reflexoes-sobre-bonus-demografico-etarismo-economico-economia-prateada-e-esg/
Na outra ponta, a taxa de dependência de idosos na Indonésia é de 17,08%, o que significa que há 17 idosos para cada 100 indivíduos em idade ativa. Além disso, cerca de 30% dos domicílios incluem membros mais velhos, sendo que metade deles são chefes de família. Portanto, esses números destacam a importância de considerar as necessidades e os papéis dos idosos na sociedade indonésia.
Lá, mais de 50% dos idosos permanecem engajados na força de trabalho. Ainda assim, há um preconceito generalizado em relação à idade e uma falta de preparo para o envelhecimento.
Políticas Públicas
O governo indonésio está implementando estratégias para lidar com os desafios impostos pelo envelhecimento populacional, já que lá, uma a cada cinco pessoas terá 60 anos ou mais até 2045.
A campanha nacional “Um Idoso Independente, Próspero e Digno” visa promover o envelhecimento saudável e digno.
Essa iniciativa inclui várias medidas importantes, tais como:
- Expansão da Previdência Social, visando ampliar os benefícios da previdência social e assistência a idosos, garantindo suporte financeiro e proteção social.
Além disso, a iniciativa abrange a Educação ao Longo da Vida, com o desenvolvimento de programas educacionais para apoiar a independência dos idosos, promovendo habilidades e conhecimentos para uma vida autônoma.
Por fim, o fortalecimento do Sistema de Proteção Social é outra prioridade, com o objetivo de fortalecer os Centros de Atendimento Comunitário para fornecer apoio e serviços sociais aos idosos.
Indicadores de Sucesso
Para avaliar o impacto dessas iniciativas, foram estabelecidos indicadores importantes, incluindo:
- Aumento da Expectativa de Vida, com o objetivo de medir o impacto das políticas na saúde e qualidade de vida dos idosos.
Além disso, busca-se aumentar a Participação no Mercado de Trabalho, promovendo oportunidades de emprego e renda para os idosos no mercado formal de trabalho.
Nesse contexto, também é fundamental fomentar a Participação Comunitária, fortalecendo laços sociais e promovendo a inclusão dos idosos em eventos comunitários.
Outrossim, visa-se à Redução da Violência, garantindo um ambiente seguro e protetor para os idosos e diminuindo os índices de violência contra eles.
Por fim, a Melhoria das Habilidades Físicas é outro indicador-chave, com programas de atividade física e saúde destinados a melhorar as habilidades e capacidades físicas dos idosos.
E os jovens?
A disparidade entre a percepção e a realidade da discriminação no local de trabalho é intrigante. Embora o combate ao preconceito de idade seja considerado uma prioridade, apenas 6% dos entrevistados na pesquisa da Michael Page Indonésia relataram ter sofrido discriminação, contrastando com os 48% que identificaram a idade como principal fator de exclusão no mercado de trabalho.
Embora a incidência de discriminação direta seja relativamente baixa, as preocupações com o etarismo e outros preconceitos permanecem generalizadas. Isso é evidenciado por dados adicionais: 10% dos entrevistados sofreram microagressões, 9% testemunharam marginalização e 8% relataram ser estereotipados. Esses números sugerem que o preconceito e a exclusão podem se manifestar de formas mais sutis, em vez de discriminação explícita.
A alta prioridade atribuída à prevenção da discriminação etária no local de trabalho contrasta com o menor número de incidentes relatados, indicando que os funcionários estão mais preocupados com o potencial da discriminação por idade do que com experiências diretas.
Em resumo, os dados apontam para a presença de formas mais sutis de exclusão, em vez de discriminação aberta, e destacam a importância de abordar essas questões de forma proativa no ambiente de trabalho.
Preocupação que transcende a idade
O etarismo pode impactar profissionais de diferentes faixas etárias. Estudos indicam que, na Indonésia, 62% dos trabalhadores entre 20 e 30 anos relatam preocupação com preconceito de idade, enquanto entre aqueles de 30 a 40 anos esse índice é de 58%.
Esses números revelam que o preconceito de idade pode afetar trabalhadores em diferentes estágios de suas carreiras. Tanto os funcionários mais jovens quanto os mais velhos enfrentam preconceitos relacionados à idade, embora de maneiras distintas, o que sugere que o etarismo seja uma questão mais ampla e complexa do que se costuma pensar.
Fran Winandy, 09/2025
Referências:
Journal of Aging & Social Policy , 35 (6), 842–858. https://doi.org/10.1080/08959420.2023.2226313
https://www.unescap.org/sites/default/d8files/event-documents/Session1_PM_Indonesia.pdf