Um importante jornal de circulação nacional trouxe hoje algumas matérias interessantes sobre o aumento de mão de obra 60+ no mercado de trabalho e a escassez de profissionais mais jovens, o que comprova que os debates sobre o pilar etário são uma tendência nas organizações e sociedade.
Um olhar superficial nestas matérias pode trazer alento aos profissionais mais velhos, uma sensação de que finalmente as empresas perceberam o seu valor e a necessidade de mudar a mentalidade. Mas, não se enganem, ainda temos um longo caminho a percorrer nesta direção.
A chamada de uma das matérias diz que o “total de trabalhadores com mais de 60 anos empregados é recorde”, e efetivamente, o número praticamente dobrou em 10 anos. Porém, nestes 10 anos, o número de idosos acima de 60 anos passou de 15,2 milhões para 32,1 milhões, o que faz com que esse “recorde”, em termos proporcionais, não seja melhor do que era: chamada capciosa para criar otimismo, vender jornal ou aumentar os compartilhamentos nas redes sociais?
Informalidade: um destino quase certo para profissionais acima de 60 anos no Brasil
Uma leitura atenta, traz insights importantes, como o fato de que mais da metade dos trabalhadores com mais de 60 anos está na informalidade, fato que se deve ao desencontro entre os rendimentos da aposentadoria frente ao custo de vida de uma pessoa que está em pleno vigor em sua vida e sabe que vai viver mais. Assim, trabalhadores mais velhos são obrigados a se sujeitar a qualquer trabalho/ remuneração que possa complementar a sua renda, já que o etarismo os expulsa cedo demais do mercado formal de trabalho.
Será que as empresas sabem definir os indicadores corretos para avaliar os avanços da Diversidade?
A matéria aponta que pouquíssimas empresas têm indicadores para medir o avanço de suas ações no tocante à Diversidade Etária e que a maior parte delas ainda permanece alheia ao etarismo. Na minha opinião, boa parte das empresas nem sabe como definir estes indicadores e, como não valorizam profissionais que o sabem, não conseguem realizar um trabalho profundo nesta seara: o resultado que elas não têm vem do preço que elas não estão dispostas a pagar.
Carência de jovens afetará o Mercado de Trabalho
A redução no número de crianças e jovens em nossa sociedade é outro ponto citado ” en passant”, mas que deve preocupar líderes e profissionais de RH das empresas: estudo recente do “The Lancet” diz que o fenômeno é global e que países precisam ter uma taxa de fecundidade de 2,1 filhos para manter a substituição geracional de um país. A nossa taxa de fecundidade trazida pelo último censo demográfico do IBGE em 2022 foi de 1,57: tirem suas conclusões.
Os desafios impostos pela nova realidade demográfica do país para as empresas diante de uma oferta menor de trabalhadores mais jovens são muitos, a começar pelas práticas de recursos humanos, que envolvem a revisão das políticas organizacionais e sensibilização das lideranças com relação ao novo cenário.
Do talk para o walk
Trago reflexões realistas sobre o tema porque sei da necessidade de um trabalho sério nesta área e percebo que a superficialidade atrapalha o avanço real dentro das organizações. Se a sua empresa quer mudar este cenário, saiba que receitas de bolo só servirão para desperdiçar dinheiro: neste caso, o barato sai caro!