Pessoas trabalhando

Estereótipos, o que são?

Estereótipo é um assunto conhecido e relativamente fácil de compreender: costumamos simplificar as coisas, generalizando-as, para facilitar a vida e nem percebemos os preconceitos que estão por detrás disso. O que vêm a sua mente quando te pedem para descrever “o povo brasileiro”?

Os estereótipos são generalizações e costumam ser a base dos preconceitos. Palmore, em seu livro sobre o etarismo, lista os principais estereótipos relacionados às pessoas mais velhas, dentre os quais o declínio cognitivo. A força dos estereótipos é tão grande que, por maiores que sejam os cuidados com a saúde física e mental, a maioria dos estudos continua apontando para eles.

Estereótipos e Gerações

A relação entre estereótipos de idade no trabalho e perfís geracionais é um tema fascinante que merece reflexão. Quando associamos certas características a uma geração específica, como “a geração X é ambiciosa” ou “a geração Y é cheia de propósito”, estamos reforçando estereótipos. Esses estereótipos podem levar a expectativas irrealistas e julgamentos precipitados sobre as pessoas baseados mais na geração do que em suas habilidades e contribuições reais.

Por exemplo, é comum ouvir que os millennials (geração Y) são “nativos digitais” e, portanto, mais adaptáveis às novas tecnologias. No entanto, isso ignora o fato de que muitas pessoas de outras gerações também são altamente capacitadas em tecnologia. Da mesma forma, a ideia de que os baby boomers são resistentes à mudança pode não se aplicar a todos os indivíduos dessa geração, que podem ser tão abertos à inovação quanto qualquer outra pessoa.

Esses estereótipos geracionais podem ter consequências negativas no ambiente de trabalho. Eles podem levar a uma falta de reconhecimento do potencial individual, influenciar decisões de contratação e promoção, e até mesmo afetar a dinâmica de equipe. Ao invés de focar em estereótipos geracionais, as empresas deveriam buscar entender e valorizar as habilidades, experiências e perspectivas únicas de cada colaborador, independentemente da idade.

Meta-Estereótipo

O novo conceito de meta-estereótipo se insere neste ponto, considerando o que acreditamos que os outros pensam de nós com base em nossa faixa etária. Parece complicado, mas não é!. Eden King e três colegas, ao explicarem este tema em um artigo recente, colocam que uma pessoa mais jovem pode se preocupar com o fato de pessoas em seu ambiente de trabalho acreditarem que ela seja narcisista, mesmo que as outras pessoas não estejam pensando isso dela, ou seja, as pessoas podem assumir que outras pessoas estejam fazendo suposições sobre ela.

O assunto fica mais interessante quando King, Finklestein, Thomas e Corrington citam algumas pesquisas nas quais Jovens treinaram pessoas “mais velhas” (com uso de fotos e alteração vocal) de forma superficial devido a baixas expectativas sobre o retorno.

Profecia auto-realizadora

Essa pesquisa revela conclusões preocupantes sobre a eficácia dos treinamentos em tecnologia para pessoas mais velhas. Uma delas é que treinamentos “fracos” podem ser suficientes quando conduzidos por pessoas mais jovens, mas isso leva a uma consequência grave: os mais velhos têm dificuldade em aplicar os conceitos aprendidos em sua rotina profissional. Isso sugere que a falha não está na capacidade de aprendizado, mas sim na qualidade do treinamento.

Além disso, podemos analisar o impacto psicológico que esse processo pode ter nas pessoas que foram mal treinadas. O estereótipo do declínio cognitivo associado à idade pode levar a uma profecia auto-realizadora, fenômeno destacado por Gordon Allport em sua teoria da profecia auto-realizadora. Segundo Allport, “as expectativas que temos sobre as pessoas podem se tornar realidade porque as pessoas tendem a se comportar de acordo com essas expectativas”. Nesse caso, se alguém não consegue aprender ou aplicar o que aprendeu, pode concluir que é porque não tem capacidade, reforçando o estereótipo e diminuindo a motivação para se esforçar.

Como Allport destacou, as expectativas negativas podem ter um impacto profundo no comportamento e no desempenho das pessoas. Ao esperar que os mais velhos tenham dificuldade em aprender tecnologia, estamos criando uma profecia auto-realizadora que pode se tornar realidade. É fundamental que as empresas reconheçam esse fenômeno e trabalhem para criar um ambiente de aprendizado inclusivo e apoiador, onde todos tenham a oportunidade de crescer e contribuir.

Lições para a área de Treinamento & Desenvolvimento

Isso destaca a importância de treinamentos de qualidade, adaptados às necessidades e estilos de aprendizado de todos, independentemente da idade. Ao investir em treinamentos eficazes e personalizados, as empresas podem não apenas melhorar a capacidade de aprendizado dos funcionários, mas também combater estereótipos negativos e promover uma cultura de inclusão e desenvolvimento contínuo.

É hora de repensar a abordagem de treinamento e desenvolvimento para garantir que todos tenham a oportunidade de crescer e contribuir.

Não são reflexões incríveis para nossas organizações?