Ásia: abandono e morte
O Japão e a Coreia do Sul estão enfrentando um fenômeno alarmante conhecido como “Revolução Silenciosa”, caracterizado pela morte de idosos em suas residências, muitas vezes sem que ninguém perceba por semanas, meses ou até anos. Essa situação de abandono total é um reflexo da crise que esses países enfrentam em relação ao envelhecimento da população e à falta de apoio aos idosos.
Os desafios trazidos pelo envelhecimento são percebidos na Ásia e no mundo. O planejamento parece ser a chave para minimizar os problemas futuros e construir um caminho mais consistente para este fenômeno demográfico.
Dentre as principais questões, a necessidade de uma maior participação social, a sustentabilidade dos sistemas de saúde e mecanismos para uma maior segurança financeira.
Velhice solitária e pobre
O Japão, com uma das maiores expectativas de vida do mundo, também tem uma das menores taxas de fecundidade. Isso resulta em uma geração mais jovem reduzida, o que traz inúmeros problemas.
Durante séculos, em grande parte da Ásia, a tradição ditava que os filhos cuidassem dos pais idosos. No entanto, essa prática vem se enfraquecendo à medida que as gerações mais jovens migram para as cidades, abandonando os pais e avós que precisam de apoio e cuidado.
Na Coreia do Sul, o sistema previdenciário exclui idosos com filhos: eles esperam um apoio financeiro no futuro que nem sempre se torna realidade. Paradoxalmente, muitos idosos que tiveram carreiras bem-sucedidas terminam caindo na pobreza após investir pesadamente na educação dos filhos, que desaparecem quando os pais necessitam de seus cuidados.
Outro aspecto relevante é a pressão cultural extrema contra o fracasso, que pode levar ao esgotamento profissional e, em casos extremos, até ao suicídio, evidenciando a necessidade de uma abordagem mais equilibrada e compassiva em relação ao desempenho e às expectativas.
Aposentadoria forçada aos 50 anos
O etarismo nas empresas é um problema grave, especialmente na Coreia do Sul, onde trabalhadores de meia-idade são sistematicamente excluídos do mercado de trabalho. Além disso, os empregos bem remunerados são escassos e concorridos: você conhece outro país em que isso também acontece?
Na Coreia do Sul, uma prática corporativa comum é pressionar os trabalhadores com mais de 50 anos a se aposentarem precocemente, o que resulta em pensões menores, como uma forma de evitar o pagamento de encargos trabalhistas mais altos e exclusão do mercado formal de trabalho.
De acordo com os dados mais recentes do governo sul-coreano, a taxa de suicídio no país alcançou seu pico mais alto em quase uma década. A análise por faixa etária revelou um aumento alarmante entre os idosos, com aqueles na faixa dos 60 anos registrando o maior aumento (13,6%), seguidos pelos da faixa dos 50 anos (12,1%). Problemas de saúde mental, como depressão e ansiedade, combinados com dificuldades financeiras, foram identificados como fatores significativos para essa tendência preocupante.
Iniciativas Governamentais que não resolvem
Os governos do Japão e da Coreia do Sul estão tentando enfrentar essa crise com algumas medidas: A criação do “Ministério da Solidão” no Japão e a “Lei de Prevenção e Gestão da Morte Solitária” na Coreia do Sul são exemplos disso.
No entanto, essas medidas são paliativas e não abordam as causas profundas do problema, que poderiam ser atenuados com o incentivo a imigração, o aumento da participação de mulheres no mercado de trabalho, campanhas nacionais contra o etarismo, incentivos para a permanência de profissionais mais velhos nas empresas e a implementação de políticas de saúde mental.
Escassez de mão de obra: desafio global
À medida que a humanidade avança, um desafio global se torna cada vez mais evidente: a escassez de mão de obra. Com o aumento da expectativa de vida e a queda nas taxas de natalidade, muitos países enfrentam uma mudança demográfica sem precedentes, resultando em uma redução da força de trabalho e uma pressão sobre os sistemas econômicos e sociais.
Essa mudança demográfica traz consigo uma série de desafios, incluindo:
- Redução da força de trabalho: Com menos pessoas em idade produtiva, a força de trabalho diminui, afetando a economia e a capacidade de manter os padrões de vida.
- Pressão sobre os sistemas de saúde: Com mais pessoas idosas, os sistemas de saúde enfrentam uma maior demanda por serviços e recursos.
- Impacto na previdência social: A redução da força de trabalho e o aumento da expectativa de vida começam a pressionar os sistemas de previdência social, tornando-os insustentáveis a longo prazo.
Um giro pelo mundo
A Austrália tem utilizado políticas de imigração eficazes para mitigar os efeitos do envelhecimento populacional, assegurando uma força de trabalho ativa e diversificada. Essas políticas visam atrair trabalhadores qualificados de todo o mundo, contribuindo para o crescimento econômico e a sustentabilidade do país.
Algumas das principais iniciativas incluem:
- Pontos de imigração: A Austrália utiliza um sistema de pontos para avaliar a elegibilidade de candidatos a imigrar, priorizando habilidades e qualificações relevantes para o mercado de trabalho.
- Vistos de trabalho: O país oferece vistos de trabalho temporários e permanentes para estrangeiros qualificados, permitindo que eles contribuam para a economia australiana.
- Diversificação: A Austrália busca atrair imigrantes de diversas origens culturais e profissionais, enriquecendo a sociedade e a economia do país.
Na Europa, o incentivo à imigração e a implementação de polícas de natalidade são também medidas adotadas por diversos países.
A Alemanha por exemplo, enfrenta uma grave escassez de mão de obra. Lá, a falta de profissionais qualificados é alarmante, com 82% das empresas lutando para preencher vagas. Essa situação é agravada pelo envelhecimento da população, com 22% dos alemães já considerados idosos.
A Irlanda tem cerca de 100.000 vagas abertas em setores críticos, incluindo construção, hospitalidade e saúde, acolhendo anualmente 40.000 trabalhadores de nações terceiras.
Na America do Norte, os Estados Unidos enfrentam desafios para ajustar suas políticas de saúde e previdência, mas não pretendem recorrer à imigração. Dentre as iniciativas de enfrentamento, destacam-se:
- Ajustes nas Políticas Públicas para lidar com as pressões fiscais e garantir a sustentabilidade dos sistemas de apoio social.
- Fortalecimento da previdência complementar para garantir a sustentabilidade dos sistemas de apoio social.
- Educação Financeira para garantir a segurança financeira na aposentadoria.
- A adoção de tecnologias como inteligência artificial e análise de dados para melhorar a gestão de riscos e otimizar o desempenho dos fundos previdenciários.
A falta de mão de obra devido ao envelhecimento da população é também um desafio significativo em muitos países da América do Sul.
Uruguai, Chile e Argentina começam a trilhar o mesmo caminho de boa parte dos países do mundo devido à queda em suas taxas de natalidade e aumento da expectativa de vida.
E o Brasil?
O Brasil também envelhece a passos largos e tem uma baixa taxa de fecundidade, inferior ao mínimo necessário para reposição populacional. Além disso, o estarismo no mercado de trabalho exclui profisisonais com idade em torno de 50 anos do mercado formal, trazendo problemas de sustentabilidade financeira para boa parte da população.
Idosos no Brasil são pessoas que têm 60 anos ou mais, aspecto que contribui para a exclusão e invisibilidade desta parcela da população. Isso ocorre porque os estereótipos negativos associados ao envelhecimento são antecipados, atingindo pessoas que estão em pleno domínio de suas capacidades físicas e mentais.
Ainda que o mundo perceba que a economia prateada esteja redefinindo o mercado e transformando a longevidade em um poderoso ativo que movimenta trilhões, o Brasil parece não ter acordado para esta reconfiguração social e segue encarando o envelhecimento como uma desvantagem.
Estratégias possíveis
Para mitigar os impactos desse fenômeno, é crucial adotar estratégias proativas. Isso inclui expandir a base de contribuintes para os sistemas de previdência, ajustando a idade de aposentadoria de acordo com o aumento da expectativa de vida. Além disso, investir em saúde preventiva ao longo da vida, em vez de apenas tratar doenças, pode ajudar a manter a população saudável por mais tempo.
É fundamental implementar políticas que promovam a inclusão de pessoas acima de 50 anos no mercado de trabalho e combatam o etarismo. No Brasil, um projeto de lei atualmente em tramitação busca garantir que empresas com mais de 100 funcionários tenham uma quota mínima de 15% de colaboradores com 45 anos ou mais.
No tabuleiro do futuro, a educação ao longo da vida é uma peça-chave que pode fazer toda a diferença neste complexo jogo de xadrez. Cada movimento estratégico em direção ao desenvolvimento de habilidades e conhecimentos permite que as pessoas façam xeque-mate na aposentadoria precoce e trabalhem por mais tempo.
Além disso, promover a igualdade de gênero no mercado de trabalho é como abrir uma nova linha de ataque, permitindo que homens e mulheres trabalhem juntos em harmonia e dividam as responsabilidades familiares de forma mais equilibrada, fortalecendo assim a posição de todos.
Campanhas maciças de mídia para informação e reflexão sobre as oportunidades trazidas pelo envelhecimento e relevância do mercado prateado serviriam de apoio para essa mudança de mentalidade, tão necessária neste momento.
Por fim, uma maior atenção à Economia do Cuidado com foco na população idosa é fundamental para garantir uma vida digna e de qualidade para essa parcela da população. Isso pode ser alcançado através da valorização e regulamentação de profissionais preparados para lidar com idosos, como cuidadores e profissionais de saúde, além da criação de espaços públicos voltados para o atendimento de idosos carentes.
Além disso, é importante trabalhar para desestigmatizar instituições para cuidados de idosos, reconhecendo a importância desses espaços para fornecer apoio e cuidado especializado. Com essas ações, podemos promover uma sociedade mais inclusiva e solidária, que valorize e apoie a população idosa de forma integral.
Movimentos Estratégicos: Planejamento e Preparação
É hora de fazer o próximo movimento no tabuleiro do futuro! O envelhecimento da população é um desafio que exige uma estratégia bem planejada e executada.
Precisamos antecipar os movimentos e nos prepararmos para as consequências deste fenômeno, garantindo que os idosos tenham uma vida digna e segura. Com um planejamento cuidadoso e uma abordagem proativa, é possível proteger o futuro de todas as gerações e construir um futuro mais sustentável, onde todos possam viver em harmonia e prosperidade.
O jogo está em andamento, não fique apenas assistindo!
Fran Winandy, Especialista em Diversidade Geracional, Etarismo e Longevidade