Em outros artigos já comentamos que o etarismo raramente opera de forma isolada, podendo ser especialmente prejudicial para as mulheres. Mas como isso ocorre na prática? Uma rápida análise na linha do tempo poderá ilustrar melhor esta questão…
Juventude ” premiada”
Ao buscar um emprego, uma jovem mulher já enfrenta um julgamento silencioso. Muitos empregadores, mesmo sem verbalizar, consideram a possibilidade de uma futura gravidez como um “risco” para a empresa. Preocupam-se com licenças, estabilidade e possíveis afastamentos por questões de saúde. Além disso, alguns ainda reproduzem o estereótipo da “grávida preguiçosa e problemática”, como se a maternidade fosse um obstáculo à produtividade. Esses preconceitos, embora disfarçados, continuam presentes. São fortes, injustos e atrapalham o acesso das mulheres ao mercado de trabalho em condições de igualdade.

Filhos pequenos?
Muitas mulheres com filhos pequenos enfrentam julgamentos silenciosos no ambiente de trabalho. Mesmo quando equilibram com maestria a rotina profissional e os cuidados com fraldas, febres, pediatras, mamadeiras e apresentações escolares, ainda assim são vistas como um “problema” por certos empregadores. Ao menor sinal de interferência doméstica, colegas — especialmente homens — comentam entre si que elas recebem privilégios e proteção excessiva da empresa. Ignoram o esforço diário dessas mulheres e reforçam estereótipos que desvalorizam sua competência e comprometimento.
Curiosamente, muitos dos homens que discriminam mulheres no trabalho — sejam patrões, gestores ou colegas — também são maridos, pais, irmãos ou filhos de mulheres que trabalham. Ainda assim, a incapacidade de se colocar no lugar delas permanece absurda. E, francamente, inaceitável!.
Enfim, os filhos crescem e por um momento as coisas parecem ficar mais calmas para elas: conseguem fazer alguns cursos rápidos, uma pós graduação, cuidarem de si… Mas aí os pais e sogros começam a envelhecer e apresentar problemas de saúde. Nestes casos, a carga costuma recair novamente nas mulheres, que, acostumadas com a logística doméstica, se dobram para acolher os mais velhos nesta nova etapa.
Quando os filhos viram pais…
Os filhos, confortavelmente instalados na casa dos pais até os 25, 30 anos, às vezes partem para uma “produção independente” voluntária ou não, e nem sempre têm condições de bancar financeira e emocionalmente uma família. E as mães, agora avós, novamente assumem esse papel, lidando com a situação sem maiores dramas, afinal, elas já estão acostumadas a sair na frente e fazer acontecer!
Enquanto a vida passa, o etarismo acontece, trazendo situações inexplicavelmente mesquinhas para todos, mas especialmente para essas guerreiras.
Afinal, que diferença faz se ela tem rugas ou cabelos brancos frente a essa experiência de vida?
É urgente transformar esse mindset. Precisamos repetir essa mensagem quantas vezes forem necessárias: a interseccionalidade entre idade, sexo e aparência impõe perdas reais às mulheres. Ignorar esse impacto é perpetuar desigualdades que atravessam gerações. Além disso, o descaso com mulheres mais velhas — frequentemente invisibilizadas pela sociedade — precisa ser enfrentado com coragem e ação. Reconhecer, refletir e reagir: só assim construiremos um futuro mais justo para todas.
Fran Winandy
Se desejar ler mais sobre o etarismo e as mulheres, consulte também: https://etarismo.com.br/o-oscar-as-mulheres-e-o-etarismo/