Empresa diversa

O etarismo no trabalho

O estudo do etarismo no trabalho ainda é recente no Brasil. No entanto, já é possível observar como o preconceito relacionado à idade permeia os processos organizacionais. Um dos exemplos mais evidentes ocorre na seleção de pessoal. Muitas empresas dificultam ou até impedem a entrada de profissionais com mais de 40 ou 50 anos, sob os mais diversos pretextos: salários elevados, dificuldades com ferramentas digitais, falta de flexibilidade, baixo potencial de adaptação, entre outros argumentos genéricos. Essas justificativas tratam a idade como um fator negativo universal, ignorando competências individuais e experiências acumuladas.

Além disso, o etarismo no trabalho não afeta apenas quem busca uma vaga. Ele também atinge profissionais que já estão inseridos nas organizações. Muitos deixam de receber convites para programas de desenvolvimento, são ignorados em processos de promoção ou transferência e passam a ser alvo de comentários depreciativos. Colegas os tratam como exceções, como se manter-se produtivo e empregado nessa fase da vida fosse um privilégio concedido por terceiros. Essa postura reforça estereótipos e alimenta uma cultura organizacional que marginaliza o envelhecimento.

Piadas, estagnação e o preconceito disfarçado

A exclusão sutil dos profissionais ” mais velhos” reforça a ideia de que permanecer produtivo e empregado após certa idade seria um privilégio concedido “pelos outros” — como se o envelhecimento anulasse competências e méritos acumulados ao longo da trajetória profissional.

Esse processo de exclusão não acontece apenas por meio de decisões formais, como a retirada de oportunidades de promoção ou desenvolvimento. Ele também se manifesta de forma sutil e cotidiana, por meio de comportamentos que parecem inofensivos, mas carregam preconceito. É nesse contexto que surgem as piadas etaristas — comentários disfarçados de humor que reforçam estereótipos negativos sobre o envelhecimento. Embora muitas vezes ignoradas ou toleradas, essas falas contribuem para a desvalorização da trajetória profissional dos mais velhos e perpetuam uma cultura organizacional que normaliza o preconceito.

Mulheres e Grupos Minorizados

As mulheres enfrentam ainda mais obstáculos. A pressão estética as obriga a buscar uma juventude eterna por meio de tinturas, cosméticos, procedimentos, roupas e exercícios físicos. Além disso, muitas acumulam responsabilidades: trabalham, cuidam dos pais idosos e lidam com a instabilidade emocional dos filhos — que, em alguns casos, retornam para casa acompanhados dos netos. Mesmo diante de tantas exigências, essas mulheres seguem firmes. São verdadeiras guerreiras.

Outro tema que começa a ganhar espaço em estudos internacionais é o envelhecimento da população LGBTI. No Brasil, esse debate ainda é tímido. O cruzamento entre dois preconceitos — o etarismo e a discriminação por orientação sexual ou identidade de gênero — provoca desconforto e silenciamento. Vivemos em uma cultura que evita o conflito, varrendo questões incômodas para debaixo do tapete. Fingir que não existem apenas prolonga a exclusão.

Também é preciso refletir sobre como tratamos idosos negros, sejam homens, mulheres, gays ou trans. E sobre os idosos com deficiência, independentemente de raça, gênero ou orientação. Existe espaço para eles nas nossas organizações? A diversidade não é um caminho simples. No entanto, está provado que ela enriquece os debates e melhora os resultados das empresas.

Que tal sacudir esse tapete e começar a construir ambientes mais diversos, inclusivos e livres do etarismo no trabalho?