Como profissional da área de Recursos Humanos, agora com lentes aguçadas por analisar sob outro ângulo vivências incômodas, alguns aspectos relacionados à longevidade, diversidade e responsabilidade organizacional têm me incomodado.
Sabemos que viveremos mais. Se chegaremos aos 70, 90 ou se passaremos dos 100, é um mistério. Fazemos de tudo para prolongar o ciclo, cuidando de nossa mente, corpo e, às vezes, da alma. Se der tudo certo, muito certo, nossa dedicação às empresas irá até o momento da aposentadoria, quando estivermos perto dos 60 anos. Nesse momento teremos que nos reinventar, procurar algo diferente para fazer, pois o Mercado de Trabalho estará fechado para nós, seres improdutivos, desatualizados e velhos, sob a ótica de muitos.
De repente, o chão será tirado debaixo de nossos pés. Que sorte pensar que isso só irá acontecer agora, perto dos 60! Estamos em uma empresa boa, com estratégias modernas de engajamento, palestras sobre longevidade e, na real, estamos apavorados! Como sobreviver sem a nossa rede de proteção, nosso salário, assistência médica, nossos contatos, relacionamentos, estruturas de influência e poder?
Há muitos anos, fui responsável pelo desenvolvimento de um Programa de Preparação para a Aposentadoria. A primeira coisa que fiz foi procurar saber como aquele momento, de aposentadoria compulsória, foi vivido pelas pessoas. Como se sentiram? O que fizeram? Como se organizaram? Que dificuldades tiveram?
A iniciativa seguinte foi analisar as mesmas questões sob a ótica dos parceiros, cônjuges. Eu precisava compreender o contexto para poder estruturar um projeto que fizesse sentido. E essa foi uma parte ínfima do trabalho, que evoluiu até o alinhamento com algumas consultorias parceiras para implementação do programa.
Hoje refletindo sobre as solicitações para desenvolver trabalhos em empresas nas quais eu mal conheço a cultura, escravos da falta de tempo, me pergunto como fazer a diferença? O que desejamos sustentar e em qual escala de tempo?
Quando o profissional sai da empresa prestes a se aposentar ou aposentado, o que se passa depois é problema da empresa? Se ele ou ela tem dificuldades financeiras, se entra em depressão ou se o seu horizonte vai escurecendo, a última empresa em que atuou tem alguma responsabilidade nisso?
O modelo econômico vigente, de produção e descarte, envolve também as pessoas, na contramão dos princípios de sustentabilidade. Uma reflexão mais profunda nos aponta para a coerência do planejamento de questões de longo prazo nos programas de desenvolvimento da organização, porém, como suplantar as batalhas constantes de agenda, mudança de planos, investimentos e pessoas, além da infinita necessidade de atualização de nossos projetos?
A expectativa de vida aumentou e o Mercado de Trabalho insiste em não absorver as pessoas mais velhas. Não tenho dúvidas da responsabilidade moral que as empresas têm com seus aposentados. Resta pensar em como fazer isso sem que seja mais um Blá Blá Blá ou um bonito nome em inglês navegando em águas rasas.