
Uma lente sobre vivências incômodas
Como profissional da área de Recursos Humanos, agora com lentes aguçadas por analisar sob outro ângulo vivências incômodas, alguns aspectos relacionados à longevidade, diversidade e responsabilidade organizacional têm me incomodado.
Sabemos que viveremos mais. No entanto, o destino exato permanece um mistério. Enquanto cuidamos da mente, corpo e alma, raramente refletimos sobre a transição abrupta de contribuintes a invisíveis. Se tudo correr bem, nossa dedicação às empresas seguirá até a aposentadoria, por volta dos 60 anos. A partir daí, teremos que nos reinventar e buscar novos caminhos. Sob a ótica de muitos, o mercado estará fechado para nós: improdutivos, desatualizados e velhos.
De repente, o chão desaparece sob nossos pés. Que sorte, pensamos, por isso acontecer só agora, perto dos 60. Estamos numa boa empresa, com estratégias modernas, palestras sobre longevidade e engajamento. Ainda assim, estamos apavorados. Como seguir adiante sem rede de proteção, salário, assistência médica, contatos, influência e poder?
Programas de Preparação para a Aposentadoria
Há muitos anos, fui responsável pelo desenvolvimento de um Programa de Preparação para a Aposentadoria. A primeira coisa que fiz foi procurar saber como aquele momento, de aposentadoria compulsória, foi vivido pelas pessoas. Como se sentiram? O que fizeram? Como se organizaram? Que dificuldades tiveram?
A iniciativa seguinte foi analisar as mesmas questões sob a ótica dos parceiros, cônjuges. Eu precisava compreender o contexto para poder estruturar um projeto que fizesse sentido. E essa foi uma parte ínfima do trabalho, que evoluiu até o alinhamento com algumas consultorias parceiras para implementação do programa.
Hoje refletindo sobre as solicitações para desenvolver trabalhos em empresas nas quais eu mal conheço a cultura, escravos da falta de tempo, me pergunto como fazer a diferença? O que desejamos sustentar e em qual escala de tempo?
Quando a Identidade Profissional se Desfaz
Quando um profissional se aposenta, o que acontece depois é problema da empresa? Se enfrenta dificuldades financeiras, depressão ou uma perspectiva sombria, a empresa onde atuou por último tem alguma responsabilidade? Não deveria haver um apoio ou acompanhamento após a aposentadoria?
O modelo econômico vigente, de produção e descarte, envolve também as pessoas, na contramão dos princípios de ESG e sustentabilidade. Quando passamos da condição de contribuintes à cidadãos invisíveis, somos excluídos das empresas e da sociedade.
Refletir revela incoerências no planejamento de longo prazo. Mas como vencer agendas caóticas, mudanças, escassez de recursos e a constante necessidade de atualizar projetos?
A expectativa de vida aumentou e o Mercado de Trabalho insiste em não absorver as pessoas mais velhas. Não tenho dúvidas da responsabilidade moral que as empresas têm com seus aposentados. Resta pensar em como fazer isso sem que seja mais um discurso vazio ou um bonito nome em inglês navegando em águas rasas.
Se quiser ler mais sobre Aposentadoria, veja aqui: https://etarismo.com.br/depressao-pos-aposentadoria-voce-conhece-este-fenomeno/
Fran Winandy