Incoerências que minam a credibilidade das empresas

Construir cultura diversa e inclusiva, alinhada ao ESG, exige liderança comprometida e RH estratégico. Sem isso, o discurso não se sustenta.

  Ver empresas por dentro e fora revela incoerências difíceis de endereçar. Compartilho casos genéricos, arriscando parecer ativista , mas é só meu lado RH falando.

Diante das contradições entre falas e práticas sobre Diversidade & Inclusão, trago o debate para cá e com ele, sugestões.

Representatividade nas lideranças: Síndrome de Gabriela

A baixa diversidade nas lideranças escancara o abismo entre o que as empresas dizem e o que realmente praticam. Segundo o Censo Multissetorial da Gestão Kairós (2022), apenas 3% dos cargos de liderança são ocupados por mulheres negras no Brasil — um dado que fala por si.

Além da questão racial e de gênero, o pilar geracional também sofre com a falta de representatividade. Em geral, os profissionais que ocupam cargos gerenciais ou de direção pertencem à mesma faixa etária, seguindo as chamadas “normas de idade da organização”. Isso limita a pluralidade de perspectivas e reforça padrões excludentes.

Sem diversidade, líderes mantêm vieses inconscientes e as empresas deixam de aproveitar ganhos reais: inovação, engajamento, agilidade, produtividade e lucratividade. Diversidade não é apenas uma pauta social mas também uma vantagem competitiva.

Se ninguém questionar, nada muda. Simples assim.

Sugestão prática: Se a sua empresa se encaixa nesse cenário, promova o debate sobre diversidade nas lideranças. O desconforto inicial é inevitável, mas os frutos serão transformadores.

Cultura organizacional tóxica

Culturas que toleram assédio, discriminação ou exclusão criam ambientes tóxicos e arranham reputações — ninguém quer trabalhar ou consumir de empresas assim. Depoimentos mostram profissionais infelizes nesses ambientes. Sinais como turnover alto, fofocas, baixa participação e competição excessiva indicam toxicidade. Identifique-os e busque ajuda especializada.

Políticas e práticas discriminatórias incoerentes com o discurso de ESG

As empresas costumam ter políticas ou práticas que discriminam certos grupos com base em características como idade, gênero, raça, etnia, orientação sexual ou identidade de gênero e nem sempre estão atentas para isto. O etarismo por exemplo é prática frequente em processos de seleção de pessoal e política corriqueira em empresas que possuem programas de aposentadoria compulsória.

Práticas discriminatórias são comuns. Declarações ESG nem sempre se refletem em ações justas com fornecedores, especialmente os menores, sufocados por burocracias e prazos abusivos. Desconfia disso na sua empresa? Analise os canais com candidatos, funcionários, fornecedores e clientes. Se puder decidir, convoque stakeholders e revise processos para torná-los mais inclusivos.

Disparidades salariais

Mulheres têm mais escolaridade, mas ganham menos. A disparidade salarial chega a 21% para brancas e até 48% para negras — cultura injusta. Se houver segurança psicológica, leve o tema à liderança ou ao RH. Pode ser o início de uma transformação necessária e profunda.

Falta de apoio à Comunidade

Empresas que divulgam ações de Inclusão nem sempre, porém, apoiam efetivamente a Comunidade. Sem esse investimento social, o discurso perde força e credibilidade. Além disso, o etarismo afeta diretamente a saúde mental de pessoas 50+, frequentemente excluídas do mercado de trabalho.

E aqui está a ironia: empresas são feitas por gente que também envelhece.

Diante disso, informe-se sobre os programas sociais da sua empresa. Caso existam, envolva-se e incentive outras pessoas a fazerem o mesmo. Se não houver, proponha uma ação alinhada com seus valores — e assim, inspire mudanças reais.

A sua empresa faz o que divulga no site?

Incoerências minam a credibilidade das empresas e comprometem seus esforços por uma cultura inclusiva e socialmente responsável. Agir com coerência entre discurso e prática é essencial. Por isso, deixei sugestões para quem quer começar de verdade. Sugestão: Visite o site da sua empresa e veja se o que está lá realmente acontece. A transparência começa por aí.

Fran Winandy