Pessoas com mais de 50 anos enfrentam desafios cotidianos que passam despercebidos por muitos. Por exemplo, abrir um pote de palmitos ou uma lata de milho pode exigir esforço extra. Além disso, seguir uma receita pode se tornar complicado quando o rótulo de um ingrediente é ilegível. Essas dificuldades com embalagens de alimentos levantam uma questão importante: será isso preconceito ou simples descaso?
No universo dos cosméticos, o problema se repete. Tente levar uma máscara de reparação capilar para o chuveiro e ler o modo de uso — basicamente, sem uma lupa, essa tarefa é quase impossível. O mesmo acontece com o gel de barbear, o protetor solar, o creme depilatório e até a pasta de dentes. Embora pareçam detalhes, essas barreiras afetam diretamente a autonomia e a experiência do consumidor maduro.
As reclamações dos consumidores não param por aqui.
Algumas empresas de cosméticos, embora busquem padronização, decidiram usar a mesma embalagem para produtos completamente diferentes — como sombras, bases e blushes. Para o consumidor, isso gera confusão. Basicamente, só é possível diferenciar os itens abrindo a embalagem ou tentando enxergar as letras minúsculas no verso.
Além de dificultar o uso, essa prática ignora as necessidades de quem tem mais de 50 anos, que muitas vezes enfrenta limitações visuais. Porque a experiência do consumidor importa, é essencial repensar soluções que priorizem legibilidade, clareza e acessibilidade.
Problemas com embalagens acontecem em qualquer canto do mundo. Um estudo da DS Smith líder global de soluções de embalagens sustentáveis, produtos de papel e serviços de reciclagem, revelou que, em 2020, 41% dos consumidores europeus já tiveram algum tipo de lesão ao abrir uma encomenda.
Ao observar o Brasil sob a lente etária, percebemos que a população com mais de 50 anos é a que mais cresce. Esse movimento, aliás, acompanha uma tendência global. Basicamente, estamos diante de um oceano prateado de oportunidades — especialmente para a economia, que pode se beneficiar da experiência, do poder de consumo e da longevidade ativa desse público.
Uma curiosidade sobre este processo é que as mulheres continuam sendo maioria.
Embora o envelhecimento da população seja uma das quatro megatendências do século XXI, o ESG — conjunto de práticas que avaliam sustentabilidade e governança nas organizações — ainda negligencia o etarismo.
Ao ampliar sua lente sobre Diversidade, o conceito parece ignorar um preconceito que, segundo o relatório de 2021 da Organização Mundial da Saúde, custa bilhões de dólares às sociedades.
Basicamente, o etarismo continua invisível nas pautas corporativas, mesmo sendo um fator que impacta diretamente a saúde, a produtividade e a inclusão social. Além disso, sua ausência nas estratégias ESG revela uma lacuna ética e econômica que precisa ser urgentemente preenchida.
O etarismo é o preconceito de idade, mais contundente para os idosos.
De acordo com a OMS, no mundo, uma a cada duas pessoas têm atitudes discriminatórias que pioram a saúde física e mental dessas vítimas do preconceito. Para se ter uma ideia dos impactos do etarismo apenas na esfera do trabalho, um estudo aponta que na Austrália, se apenas 5% mais de pessoas acima de 55 anos estivessem empregadas, haveria um acréscimo anual de 48 bilhões de dólares australianos na economia.
O etarismo permeia nossa sociedade e a falta de empatia com os idosos é uma constante. Raros são os produtos e serviços desenhados para este público que, só no ano de 2020, de acordo com a Harvard Business Review, movimentou cerca de 15 trilhões de dólares pelo mundo e cerca de 1,8 trilhões de reais no Brasil, segundo dados do Instituto Locomotiva.
As oportunidades da economia prateada não se limitam a produtos e serviços. O mercado de embalagens, que, de acordo com a Associação Brasileira de Embalagem movimentou mais de 100 bilhões no ano passado, também revela um mar de oportunidades interessantes voltadas para o público sênior, especialmente na criação de produtos que ofereçam uma melhor experiência ao consumidor.
Mas na agenda de sustentabilidade, os pilares econômico e ambiental parecem ter sido priorizados, em detrimento do social.
A resposta pode estar na representatividade.
Ter profissionais maduros para testar e sugerir alterações e inovações poderia ser uma alternativa inclusiva, de baixo custo e consonante com as diretrizes para que o ESG saia do papel e abrace de verdade as pessoas. Esta é uma agenda repleta de oportunidades, basta ampliar o olhar.
Fran Winandy, para “O Futuro das Coisas” ( Maio/22)