
Como superar o etarismo é um desafio real para profissionais com mais de 50 anos, especialmente em um mercado que ainda resiste à diversidade etária. Este artigo é para você, profissional 50+, que se sente preocupado ou desanimado com o futuro. Trago dados realistas e, por que não, otimistas. Vamos percorrer juntos um caminho lógico e concreto — onde nem tudo são flores, mas há muitas possibilidades, desde que você faça a sua parte.
Envelhecer no Brasil não é tarefa simples. Embora o país ainda carregue a fama de ser jovem, nossa pirâmide etária já ameaça dar cambalhotas. E isso muda tudo. Envelhecer aqui exige coragem, preparo e resiliência.
Afinal, já enfrentamos a hiperinflação, diversas catástrofes naturais e, mais recentemente, o avanço do Coronavírus. A pandemia sobrecarregou o sistema de saúde, deixou um rastro de morte e causou danos sem precedentes. Esses impactos se espalharam pelos âmbitos sociais, econômicos, políticos e culturais
Etarismo na pandemia
Os efeitos da pandemia foram profundos e devastadores. Por isso, uma breve reflexão se torna essencial para que possamos seguir adiante. Por um lado, muitos profissionais foram empurrados para fora das empresas. A crise, somada ao rótulo de “grupo de risco”, nos excluiu sem direito à defesa ou argumentação.
Por outro lado, fomos obrigados a mergulhar, sem aviso prévio, nas águas da tecnologia e do empreendedorismo. Basicamente, tivemos que aprender rápido — à toque de caixa — para não nos afogarmos. Apesar dos obstáculos, aprendemos. Superamos prognósticos, rompemos pressupostos e desafiamos estereótipos.
Dominamos as redes sociais. Expandimos o uso do WhatsApp para o Telegram. Migramos do Skype para o Messenger, FaceTime, Zoom, Teams, Meets, WebEx e tantos outros nomes que antes soavam estranhos. Hoje, fazem parte do nosso cotidiano.
Refugiados Digitais
Assim, transformamos nosso status. Inicialmente, éramos imigrantes digitais; depois, viramos refugiados digitais. Em busca de acolhimento, adaptamo-nos, com esforço e coragem, aos novos modelos de vida.
Nossa busca por integração profissional, antes guiada pela transição do analógico para o digital, tornou-se mais complexa. Além disso, passou a ser mais assustadora diante dos contornos exigentes — e muitas vezes preconceituosos — das personas com as quais nos deparamos.
Personas
Mas afinal, o que é uma persona? Pense num avatar. O termo é usado no Marketing para representar o “cliente ideal” de uma empresa. Assim, a partir disso, estratégias personalizadas são criadas com base em seu perfil. Geralmente, várias personas são desenvolvidas, o mais próximas possível da realidade, para mapear a jornada do cliente.
Agora, transfira esse conceito para o mercado de trabalho. Imagine que seu possível empregador — seja alguém de Recursos Humanos ou um(a) gestor(a) — também cria personas. Ou seja, ele projeta o “profissional ideal” com base em estereótipos, expectativas e padrões. E voilà: você tem suas personas para refletir, enfrentar e, se necessário, desconstruir.
Etarismo no mundo
No ano passado a Organização Mundial de Saúde comprovou aquilo que já desconfiávamos: vivemos em uma sociedade consumida pelo etarismo. Em seu relatório, após estudo com 83.000 respondentes em 57 países, concluiu que uma em cada duas pessoas no mundo tem atitudes discriminatórias que pioram a saúde física e mental dos idosos, reduzindo, assim, sua qualidade de vida. Mas quem são essas pessoas? Se você mora no Brasil e tem 60 anos, pode ser você. Se você mora na Itália, esse assunto só lhe dirá respeito quando fizer 75 anos.
Todo preconceito é injusto, mas este além de injusto, é global e democrático, já que deve abraçar a todos nós em algum momento da vida, independentemente de gênero, credo, raça ou classe social, e pouco estamos fazendo para acabar com ele. Ativamos o “modo negação”, como fazemos com o assunto “morte”, na esperança de que, ao eliminarmos os pensamentos sobre fatos indesejáveis, conseguiremos eliminar os próprios fatos. Mas isso não ocorre, e se hoje não fizermos nada, amanhã nos tornaremos invisíveis, assexuados, improdutivos e infantilizados.
Seremos maioria!
Chegou a hora de virar esse jogo, pois estamos envelhecendo a passos largos: um quarto de nossa população já tem mais de 50 anos, situação que boa parte das empresas se recusa a enxergar. Além disso, nossos jovens não querem mais ter muitos filhos; como nos países desenvolvidos, em breve teremos mais velhos do que jovens.
Seremos maioria, não podemos aceitar ser colocados de escanteio. E, se você ainda não chegou lá, se Deus quiser, chegará! Portanto, ajude a pavimentar um caminho que em breve será seu e comece por derrubar as barreiras do etarismo na sua organização, questionando as políticas e práticas de diversidade etária, presentes ou ausentes. Pergunte qual o percentual de pessoas acima de 50 anos na estrutura e qual o percentual de pessoas 50+ contratadas nos últimos 3 anos frente ao número total de contratações. Informe-se sobre o processo seletivo da sua empresa, verifique se ele é inclusivo. Fale sobre as vantagens dos times multigeracionais, que trazem inovação, engajamento e produtividade. Leia sobre o tema, estude!
Afinal, como superar o etarismo?
Para virar esse jogo, precisamos do engajamento das empresas. Afinal, quem são as empresas senão as pessoas que estão nelas?
Como ponto de partida, um bom argumento contra o etarismo é mostrar a força da economia prateada. Segundo um estudo do Instituto Locomotiva, o gasto dos brasileiros com 50 anos ou mais já supera R$ 1,5 trilhão por ano.
Dessa forma, incluir profissionais sêniores nas organizações é, comprovadamente, a melhor maneira de gerar empatia com esse consumidor — insatisfeito com o que lhe é oferecido e pouco valorizado pelas marcas.
Portanto, precisamos de representatividade dentro das empresas para abraçar esse oceano prateado de oportunidades.
E você, profissional 50+ preocupado ou desanimado com o seu futuro, prepare-se, pois, as empresas vão precisar de você!
Por isso, estude, recicle e aprenda novas competências. Esteja preparado para derrubar os estereótipos negativos sobre o envelhecimento — não aceite ser vítima do etarismo!
Quanto à tecnologia, se você ainda não domina, então faça cursos e aprenda. Em relação à produtividade, se não estiver trabalhando, procure alternativas: faça trabalho voluntário, ofereça ajuda a quem precisa ou use seu tempo para aprender algo novo. Em resumo, não vale ficar parado!
Além disso, participe de comunidades online e grupos nas redes sociais. Assim, você poderá conhecer novas pessoas, ter insights interessantes e até formar parcerias.
Por fim, conheça as plataformas onde é possível oferecer seu trabalho para empresas sem grandes complicações. E mais: ouça podcasts — a nova onda da comunicação dirigida!
Em breve você estará em uma entrevista e terá que contar tudo o que tem feito neste momento de crise. Faça coisas interessantes para que seu repertório também o seja! Se você fizer a sua parte, certamente o caminho será mais fácil! Boa sorte!
Fran Winandy para o site do Valor Econômico – Agosto/21