Esse artigo é para você, profissional 50+, preocupado ou desanimado com o seu futuro. Trago dados realistas e (por que não?) otimistas. Eu gostaria de percorrer com você um caminho lógico e concreto, onde nem tudo são flores, mas com muitas possibilidades interessantes, desde que você faça a sua parte.
Envelhecer no Brasil, onde a fama de ser um país jovem permanece mesmo quando nossa pirâmide etária ameaça dar cambalhotas, não é para amadores. E nós não somos, afinal, enfrentamos a hiperinflação, inúmeras catástrofes naturais e, recentemente o avanço do Coronavírus, sobrecarregando o sistema de saúde, deixando um rastro de morte no país, além de danos sem precedentes nos âmbitos sociais, econômicos, políticos e culturais.
Os efeitos da pandemia foram tão devastadores que uma breve reflexão é fundamental para que possamos seguir adiante. Se, por um lado, fomos empurrados para fora das empresas por conta da crise e do fato de termos sido rotulados de “grupo de risco”, sem direito a defesa ou argumentações, por outro, tivemos que aprender a nadar nas águas da tecnologia e do empreendedorismo à toque de caixa, para não nos afogarmos. E aprendemos, contra todos os prognósticos, pressupostos e estereótipos!
Aprendemos a navegar nas redes sociais, ampliamos o uso do WhatsApp para o Telegram, do Skype para o Messenger, Face Time, Zoom, Teams, Meets, WebEx e tantos outros nomes antes estranhos em nosso vocabulário que agora fazem parte de nosso dia a dia! Nosso status mudou de imigrantes para refugiados digitais, buscando acolhimento e adaptação a novos modelos de vida.
Nossa busca de integração profissional, antes moldada pela transição do analógico para o digital, tornou-se mais complexa e assustadora frente aos contornos exigentes e preconceituosos das personas com as quais nos deparamos. Explicando rápida e sucintamente o que é persona, pense num avatar. O nome é usado na área de Marketing para designar um personagem que representa o “cliente ideal” da empresa e, através da reflexão sobre o seu perfil, estratégias personalizadas são criadas; em geral várias personas são criadas, o mais próximo possível da realidade, para que assim se possa refletir sobre a jornada do cliente. Agora transfira esse conceito para o nosso possível empregador, seja alguém da área de Recursos Humanos ou Gestor(a) em uma empresa e “voilà”, você tem suas personas para refletir!
No ano passado a Organização Mundial de Saúde comprovou aquilo que já desconfiávamos: vivemos em uma sociedade consumida pelo etarismo. Em seu relatório, após estudo com 83.000 respondentes em 57 países, concluiu que uma em cada duas pessoas no mundo tem atitudes discriminatórias que pioram a saúde física e mental dos idosos, reduzindo sua qualidade de vida. Mas quem são essas pessoas? Se você mora no Brasil e tem 60 anos, pode ser você. Se você mora na Itália, esse assunto só lhe dirá respeito quando fizer 75 anos.
Todo preconceito é injusto, mas este além de injusto, é global e democrático, já que deve abraçar a todos nós em algum momento da vida, independentemente de gênero, credo, raça ou classe social, e pouco estamos fazendo para acabar com ele. Ativamos o “modo negação”, como fazemos com o assunto “morte”, na esperança de que, ao eliminarmos os pensamentos sobre fatos indesejáveis, conseguiremos eliminar os próprios fatos. Mas isso não ocorre, e se hoje não fizermos nada, amanhã nos tornaremos invisíveis, assexuados, improdutivos e infantilizados.
Chegou a hora de virar esse jogo, pois estamos envelhecendo a passos largos: um quarto de nossa população já tem mais de 50 anos, situação que boa parte das empresas se recusa a enxergar. Além disso, nossos jovens não querem mais ter muitos filhos; como nos países desenvolvidos, em breve teremos mais velhos do que jovens.
Seremos maioria, não podemos aceitar ser colocados de escanteio. E, se você ainda não chegou lá, se Deus quiser, chegará! Portanto, ajude a pavimentar um caminho que em breve será seu e comece por derrubar as barreiras do etarismo na sua organização, questionando as políticas e práticas de diversidade etária, presentes ou ausentes. Pergunte qual o percentual de pessoas acima de 50 anos na estrutura e qual o percentual de pessoas 50+ contratadas nos últimos 3 anos frente ao número total de contratações. Informe-se sobre o processo seletivo da sua empresa, verifique se ele é inclusivo. Fale sobre as vantagens dos times multigeracionais, que trazem inovação, engajamento e produtividade. Leia sobre o tema, estude!
Só conseguiremos virar esse jogo com o engajamento das empresas e quem são as empresas senão as pessoas que estão nelas? Um bom argumento contra o etarismo, para começar, talvez seja mostrar a potência da economia prateada. Um estudo do Instituto Locomotiva mostrou que o gasto dos brasileiros com 50 anos ou mais já superou R$ 1,5 trilhão anualmente. Trazer profissionais sêniores para dentro da organização é comprovadamente a melhor forma de conseguir empatia com esse consumidor, insatisfeito com o que lhe é oferecido e pouco valorizado pelas marcas: temos que ter representatividade dentro das empresas para abraçar esse oceano prateado de oportunidades.
E você, profissional 50+ preocupado ou desanimado com o seu futuro, prepare-se, pois, as empresas vão precisar de você! Estude, recicle, aprenda novas competências! Esteja pronto para derrubar os estereótipos negativos relacionados ao envelhecimento: não aceite ser vítima do etarismo! Tecnologia? Se não domina, faça cursos, aprenda! Produtividade? Se não estiver trabalhando, procure um trabalho voluntário, ofereça ajuda a quem precisa ou use o seu tempo para aprender algo novo: não vale ficar parado! Participe de comunidades on line e grupos nas redes sociais: além de conhecer outras pessoas, você poderá ter insights interessantes e até formar alguma nova parceria. Conheça as plataformas, onde você pode oferecer o seu trabalho para empresas sem grandes complicações. Ouça podcasts, a nova onda da comunicação dirigida!
Em breve você estará em uma entrevista e terá que contar tudo o que tem feito neste momento de crise. Faça coisas interessantes para que seu repertório também o seja! Se você fizer a sua parte, certamente o caminho será mais fácil! Boa sorte!
Fran Winandy para o site do Valor Econômico – Agosto/21