
Por que usar o conceito de Gerações?
Pessoas nascidas em períodos semelhantes compartilham experiências que moldam suas perspectivas e comportamentos. A pandemia e a ditadura são exemplos claros de como eventos históricos impactam gerações.
O conceito de gerações é uma ferramenta útil, mas não define quem somos. É uma lente que nos ajuda a entender diferenças, mas não é uma regra. Reconhecer as diferenças geracionais é fundamental, mas é igualmente importante ajustar as lentes para as disparidades sociais e o contexto em que vivemos. Cada realidade molda percepções e oportunidades.
Para ilustrar as diferenças entre narrativas geracionais, vou utilizar o conceito “alimentação saudável”: será que todo mundo considera “alimentação saudável “a mesma coisa? A seguir vou mostrar como as narrativas geracionais se alteram ao longo do tempo.
O que sua geração chama de saudável?
A alimentação saudável é um conceito dinâmico e pessoal, influenciado por cultura, acesso, saúde e preferências. Além disso, tradições e evolução científica moldam nossas percepções. O que era ‘saudável’ há 30 anos pode ser visto como prejudicial hoje, e isso impacta as narrativas geracionais.
Afinal, existe relação entre alimentação saudável e comportamento geracional? A minha mãe, hoje com 96 anos, acredita que cozinhar com manteiga é sinônimo de fazer uma comida saudável. Para ela, doces são associados a momentos especiais e recompensas, um hábito que eu também vivenciei e hoje tento me afastar!.
Para mim, alimentação saudável é “comida de verdade”, aquela comidinha caseira, com ingredientes equilibrados: saladas, verduras, carboidratos e proteínas, cada qual na sua proporção: gosto de pratos coloridos! Ah, fazer as refeições na na hora certa também conta pontos nessa equação: nada de pular refeições ou substituir o almoço por um suco nutritivo, embora eu já tenha cometido esse tipo de deslize ao seguir uma dieta maluca.
Boomer X
De acordo com boa parte dos estudos, sou uma representante dos Baby Boomers, na fronteira com a Geração seguinte, que é a Geração X. Quando as minhas filhas eram pequenas, eu trabalhava e nem sempre tinha tempo de fazer comida em casa para elas, especialmente quando íamos viajar. Mas eu não me estressava com isso não: comprava aqueles potinhos daquela empresa multinacional que você conhece e resolvia o problema, sem maiores preocupações!
Essa é uma característica comum a quem é da Geração X. Essa geração levou muitas mulheres ao trabalho e por conta disso teve muito contato com alimentos ultraprocessados: quem tinha tempo de cozinhar em casa?! Essa geração hoje ainda navega entre os hábitos alimentares tradicionais e a conveniência da vida moderna.
Boa parte dessas pessoas (62%) relata fazer uso diário de suplementos para a saúde geral, um número bem acima das gerações mais jovens: que atire a primeira pedra a pessoa com mais de 45 anos que não usa vitaminas, creatina ou colágeno em seu dia à dia!
A lente crítica dos Millennials sobre o pão nosso de cada dia
A Geração Y, nascida entre 1981 e 1995, trouxe um olhar mais amplo sobre o ato de comer. Já repararam que, para eles, a gastronomia tem grande influência na escolha de destino de uma viagem? Pois é, comer fora pode ser uma atividade social, uma forma de vivenciar experiências.
Além disso, eles querem transparência sobre a origem, processo produtivo e impacto ambiental dos alimentos, buscando informações além da tabela nutricional tradicional. A sustentabilidade nas embalagens e práticas de produção são fatores relevantes. Por fim, os ingredientes assumem maior grau de importância: como estamos de açúcar e carboidratos?
São comuns os desentendimentos pela falta de acordo sobre as rotinas alimentares estabelecidas: tenho uma amiga cujo filho ameaçou tirá-la do convívio dos netos se ela insistisse em lhes oferecer sorvetes e doces.
Entre a alimentação saudável e a conveniência: o olhar da Geração Z
A Geração Z, mais crítica e antenada, prioriza a saúde mental e busca opções práticas, mas sem abrir mão do natural. ‘É congelado, mas é saudável!’ virou um mantra. Nada de conservantes ou letrinhas miúdas: essa galera associa açúcar a acne, ansiedade e baixa energia, além de desconfiar dele por ser industrializado.
A Geração Z conecta comida com saúde física e mental, priorizando alimentos frescos e naturais. Monitora nutrientes, busca transparência das marcas e não abre mão da praticidade. Além disso, eles têm um paladar aventureiro e curtem experimentar sabores diferentes!
O que dizer dos Alphas?
A geração Alpha cresce num caldeirão de sustentabilidade e diversidade. Ainda é cedo para afirmar, mas eles tendem a preferir alimentos naturais e orgânicos. Além disso, são mais expostos a influenciadores digitais, o que molda suas preferências. É uma geração que valoriza experiências imersivas, como restaurantes temáticos ou interativos, que vão além da comida.
Alimentação saudável e comportamento geracional

Muitos ingredientes mudaram de significado ao longo do tempo, acompanhando avanços científicos, mudanças culturais, crises econômicas e tendências de mercado. O açúcar, o leite, a manteiga, a carne e o pão são exemplos disso.
Cada geração reescreve a história da alimentação, moldada por valores, medos, descobertas e desejos. O que era símbolo de cuidado pode virar motivo de alerta — e vice-versa. Por isso, ‘comer bem’ é um conceito relativo, que varia de você, seu filho e seu neto. Cada um com sua lente, concorda?
Fran Winandy