O envelhecimento é feminino — e desigual. Enquanto alguns idosos concentram mais poder econômico e movimentam a economia prateada, outros dependem financeiramente da família e do poder público.

Em ambos os casos, o cuidado, quase sempre invisível e não remunerado, recai sobre as mulheres.

Entrevista de Emilio Umeoka com Fran Winandy traz reflexões sobre desigualdades de gênero no envelhecimento, destacando o papel invisível das mulheres no cuidado. Emilio é embaixador do Sanford Center on Longevity e Fran é especialista em Etarismo e Longevidade.

Mulheres e envelhecimento: diferenças em relação aos homens

Quando avaliamos as perspectivas de gênero, os homens e as mulheres envelhecem de formas diferentes?

As mulheres vivem em média sete anos a mais que os homens e por conta disso, há uma “feminilização do envelhecimento”.

As mulheres, biologicamente, resistem melhor a doenças e, ademais, realizam exames preventivos e acompanhamentos médicos com mais frequência.

Além disso, cultivam redes de apoio social, fortalecem vínculos com familiares e amigos e adotam hábitos saudáveis, como boa alimentação e atividade física.

No Brasil, a velhice é marcada por uma grande heterogeneidade socioeconômica, o que resulta em contrastes significativos no envelhecimento.

O impacto do trabalho de cuidado não remunerado na vida das mulheres

O trabalho de cuidado hoje é quase que exclusivamente exercido por mulheres e essencial para a sociedade. Ainda assim, é uma atividade não ou mal remunerada. Como você avalia o impacto desse cuidado na vida das mulheres brasileiras?

As mulheres brasileiras assumem, de forma desproporcional, o trabalho de cuidado — tanto remunerado quanto não remunerado. Além disso, realizam ¾ do cuidado não pago, como tarefas domésticas e atenção a familiares, e compõem cerca de 2/3 da força de trabalho em cuidados pagos, especialmente nas áreas de saúde e educação.

De acordo com o IPEA, 70% das brasileiras se sentem sobrecarregadas pelo trabalho invisível, não remunerado e solitário.

A pesquisa Esgotadas da Think Olga destaca que 45% das mulheres brasileiras foram diagnosticadas com algum transtorno mental, como ansiedade ou depressão, frequentemente relacionados à falta de dinheiro e sobrecarga de trabalho.

Essa dinâmica perpetua desigualdades de gênero e restringe oportunidades femininas em saúde, bem-estar, carreira e desenvolvimento pessoal, afetando profundamente sua autonomia e qualidade de vida.

Como mitigar esses efeitos?

Empresas precisam oferecer políticas robustas de licença parental e apoio à infraestrutura de cuidados, como creches acessíveis e de alta qualidade. Além disso, é necessário um esforço coletivo para mudar a percepção de que o trabalho de cuidado é exclusivamente feminino e valorizar essa atividade essencial para a sociedade.

Além disso, educar homens desde cedo e incentivar sua participação no cuidado ajuda a aliviar a sobrecarga feminina. Isso também promove uma divisão mais justa.

Desafios do cuidado com idosos no Brasil

Há opções acessíveis e confiáveis de cuidado institucionalizado aos idosos hoje no Brasil? Como você enxerga esse cenário?

No Brasil, existe uma grande diferença entre as opções de cuidado institucionalizado disponíveis para quem pode e quem não pode pagar.

As instituições de cuidado variam desde Creches e Casas de Repouso até Centros de Assistência Social e Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs).

No entanto, a acessibilidade e a confiabilidade dessas opções dependem fortemente do poder aquisitivo do indivíduo.

Nas redes, relatos mostram barreiras geográficas e financeiras ao cuidado — realidade que vivencio com os altos custos da ILPI onde está minha mãe.

O envelhecimento exige políticas públicas que ampliem o acesso a cuidados confiáveis e acessíveis, especialmente para populações vulneráveis no Brasil.

Políticas públicas e caminhos para um envelhecimento mais justo

Há caminhos para melhorar este cenário?

No Brasil, acredito que a primeira etapa seria a integração de políticas e práticas públicas, seguida por uma comunicação clara e transparente sobre as formas de utilização. Posteriormente, um órgão centralizador poderia avaliar as lacunas existentes e analisar possíveis formas de viabilização, garantindo assim uma abordagem mais eficaz e coordenada para atender às necessidades da população.

Uma possibilidade seria explorar parcerias entre o setor público e privado para melhorar a qualidade e a acessibilidade desses serviços. Além disso, é fundamental educar a população sobre as opções disponíveis e conscientizar sobre a importância da qualidade e segurança nos serviços de cuidado institucionalizado.

Se quisermos enfrentar o envelhecimento populacional de forma justa, precisamos discutir a feminilização do cuidado, valorizar o trabalho das mulheres e criar políticas públicas inclusivas.

Como você enxerga esse desafio no Brasil?

Artigo baseado em entrevista publicada no LinkedIn em Outubro/ 2025. Link para artigo original: https://www.linkedin.com/pulse/envelhecimento-brasil-desigualdades-feminiliza%C3%A7%C3%A3o-e-o-emilio-umeoka-mwtmc