Ao refletirmos sobre as expressões “Boomer” ou “Baby Boomer”, frequentemente as associamos a características que evocam rebeldia e disrupção. Em contrapartida, ao considerarmos as palavras “idoso(a)” ou “velho(a)”, somos levados a pensar em traços relacionados à acomodação, incapacidade e dependência.
Essa dicotomia nas percepções revela como a linguagem pode moldar nossas opiniões e preconceitos sobre diferentes gerações.
Dados recentes revelam uma realidade surpreendente e preocupante relacionada a este grupo etário, desafiando estereótipos e convidando-nos a reconsiderar nossas concepções sobre a velhice.
DELITOS COMETIDOS POR IDOSOS
Nos Estados Unidos, por exemplo, os índices de criminalidade cometida por pessoas idosas aumentaram em 15% ; no Reino Unido houve um aumento de 10% no consumo de drogas e alcoolismo dentro dessa faixa da população.
QUANDO A PRISÃO É MELHOR DO QUE A LIBERDADE
Além disso, uma notícia alarmante vinda do Japão destaca que muitos idosos estão cometendo crimes com a intenção de serem presos. Para esses indivíduos, as condições oferecidas pelos presídios são vistas como uma alternativa mais favorável em comparação ao abandono e à solidão que enfrentam fora das grades.
Esses dados não apenas desafiam estereótipos comuns sobre a velhice, mas também nos convidam a refletir sobre as complexas realidades que muitos idosos enfrentam na sociedade contemporânea.
ETARISMO, O GRANDE MAL
O etarismo é o terceiro maior “ismo” do mundo ocidental, ficando atrás apenas do racismo e do sexismo. Os idosos são os mais afetados por esse preconceito: dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) revelam que, a cada dois idosos, um enfrenta discriminação etária.
No mercado de trabalho, essa discriminação é onipresente, manifestando-se já aos 40 anos e intensificando-se com o passar do tempo. Essa realidade não apenas limita as oportunidades profissionais dos mais velhos, mas também perpetua estigmas que desvalorizam a experiência e a sabedoria adquiridas ao longo da vida.
SIGNIFICADOS DO TRABALHO
O trabalho possui diversos significados na vida das pessoas. Para alguns, é uma necessidade básica; para outros, representa um propósito ou sentido. Para muitos, é uma combinação dessas duas dimensões.
O trabalho nos conecta com outras pessoas e, frequentemente, nos desafia intelectualmente. Com os frutos do nosso trabalho, conseguimos pagar nossas contas, ou pelo menos parte delas. Além disso, é através dele que buscamos momentos de lazer, como ir ao cinema, ao teatro ou viajar.
O trabalho nos proporciona uma sensação de pertencimento e de vitalidade, contribuindo para a construção de nossa identidade e bem-estar.
EXCLUSÃO
O sentimento de quem deseja ou precisa trabalhar, mas não consegue, é marcado pela exclusão, pelo não pertencimento e pela marginalidade.
A impotência diante das dificuldades financeiras gera uma onda de ansiedade, desânimo e insônia, que muitas vezes culmina em um estado depressivo. Esse quadro não apenas intensifica o ciclo de exclusão, mas também reflete uma realidade dura: o “baixo astral” não é valorizado em nossa sociedade.
A falta de oportunidades e o estigma associado ao desemprego criam barreiras que dificultam a reintegração dessas pessoas, perpetuando um ciclo vicioso de isolamento e desespero.
E NO BRASIL?
No início deste artigo, mencionei algumas consequências do etarismo ao redor do mundo.
Deixei para falar sobre o Brasil no final, pois, embora não possua dados tão impactantes quanto os amplamente divulgados pela mídia internacional, tenho uma coleção de casos que colhi em minha prática diária nesta área. Por exemplo F. , que enfrentou dificuldades para se cadastrar em uma plataforma de vagas, mas conseguiu quando reduziu sua idade. E J., que durante uma entrevista de emprego, ouviu da recrutadora que a vaga era destinada a candidatos mais “juniores” do que ela. Ou M., que passou por vários entrevistadores e, ao ser questionada sobre sua idade no final do processo, nunca mais recebeu um retorno.
Os casos acima podem parecer corriqueiros, quase banais, mas ilustram o assunto discutido aqui e apontam para consequências mais sérias caso não haja mudanças neste cenário.
No Brasil, as empresas ainda enfrentam muitas dificuldades para normalizar a contratação de profissionais com mais de 45 anos.
A associação entre idade e potencial continua a prevalecer: aqueles que ainda não alcançaram certos marcos são frequentemente malvistos. Além disso, a proximidade da aposentadoria contribui para essa exclusão, por mais que as pessoas estejam vivendo mais e precisem trabalhar por mais tempo.
COMO VOCÊ PODE MUDAR ESSE CENÁRIO?
Existem muitas formas de participar do combate ao etarismo. Se você estiver dentro de uma empresa, levar o assunto para discussão pode ser um bom começo.
A criação de uma cultura inclusiva demanda persistência e intencionalidade: todos podem e devem contribuir para isso!
Caso você esteja sofrendo com o etarismo, levante essa bandeira sem se vitimizar. Crie ou compartilhe publicações que façam com que outras pessoas reflitam sobre o tema.
POR QUE VOCÊ DEVE FAZER ALGO A RESPEITO?
Se você chegou até aqui, é provável que esse assunto desperte seu interesse, mesmo que você não se sinta diretamente afetado por ele. O fato é que todos nós conhecemos, ao menos, uma pessoa que enfrenta dificuldades devido à questão etária, seja no âmbito pessoal ou profissional.
Além disso, é importante reconhecer que, um dia, podemos nos tornar alvos desse preconceito. Por isso, é fundamental que nos mobilizemos agora!
O etarismo está profundamente enraizado no tecido de nossas organizações e na sociedade como um todo, gerando um custo invisível, subjetivo e difícil de mensurar. No entanto, sabemos que sua presença é inegável e impactante.